Cintura e Rota (2)

De acordo com o que se pode ver num planisfério, a “Nova Rota da Seda” terrestre começará em Xi’an, na região central da China, antes de se estender para o oeste através de Lanzhou (província de Gansu), Urumqi (Xinjiang) e Khorgas (Xinjiang), que fica perto da fronteira com Xinjiang. Cazaquistão.

 

A Rota da Seda, então, vai do sudoeste da Ásia Central para o norte do Irão, para a Síria, Turquia e, finalmente, para o norte da Europa Ocidental, onde se encontra com a igualmente ambiciosa Maritime Silk Road.

A Rota da Seda Marítima começará em Quanzhou, na província de Fujian, e também atingirá Guangzhou (província de Guangdong), Beihai (Guangxi) e Haikou (Hainan) antes de seguir para o sul até ao Estreito de Malaca.

De Kuala Lumpur, a Rota da Seda Marítima segue para Calcutá. Da Índia atravessa o restante do Oceano Índico até Nairóbi, Quénia, ao Chifre da África, e atravessa o Mar Vermelho até ao Mediterrâneo de encontro à Rota da Seda terrestre.

O Ocidente é hoje mais cético sobre a globalização do que tem sido tradicionalmente e há poucos sinais de que esta situação se reverterá no futuro próximo. Será interessante tentar perceber a forma como as grandes potências e algumas médias potências à escala global e regional, encaram esta iniciativa chinesa.

Como tem sido amplamente divulgado, as discussões sobre um acordo comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia estão emperradas e o governo Trump tem vindo a anunciar insistentemente a sua intenção de promover políticas autárquicas. A globalização também parece ter desempenhado um papel na decisão do Reino Unido de se retirar da União Europeia.

Os Estados Unidos.- Apesar da ameaça que o renascido Império do Meio representa para alguns países da sua área geográfica próxima, fica a ideia de que a atual administração dos Estados Unidos não encara ainda a China como uma ameaça à escala global.

Alguns dos países citados são seus aliados desde meados do século passado. São o caso dos países banhados pelo Mar da China, como o Japão e Taiwan.

Outros aliados americanos, no entanto, podem ver-se beneficiados pelo aumento das transações com a China. Alguns desses países aparecem já citados no quadro afixado na primeira parte deste artigo (Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura…). É preciso, ‘ao fim e ao cabo’, ter muito presente que os economistas concordam que o projeto chinês tem o potencial de estimular o crescimento global.

A Rússia, a Índia e o Paquistão – Até recentemente, a superfície terrestre do vasto continente eurasiático estava de facto sob influência russa, enquanto a sua atividade marítima era dominada pela Índia. Esses dois países têm uma abordagem compreensivelmente cautelosa em relação a um projeto destinado a expandir o alcance geopolítico de seu poderoso vizinho. No entanto, as relações russo-chinesas permanecem relativamente boas. Um grande esforço foi feito nessa direção nos últimos 15 anos através da Organização de Cooperação de Xangai, que une vários países da Ásia Central.

Quanto à Índia, o principal obstáculo é a importância que o Paquistão assume neste projeto. Este país tornou-se beneficiário de um programa de assistência económica em larga escala financiado pela China. Esta ajuda foi intensificada com o lançamento do novo projeto, mesmo que a Índia não seja lenta a expressar o seu desacordo face a este.

O Projeto Karot, suportado por uma subsidiária da China Three Gorges Corp, foi objeto de um dos 51 acordos no valor de US $ 46 biliões (entendidos à americana) assinado pela China e pelo Paquistão durante a visita do presidente Xi a este país. Esta rota de importação de energia da China a partir do Médio Oriente, transformará o Paquistão num centro económico regional da maior importância.

O Japão. – Este país olha com algum receio para o aumento de poderio da sua poderosa vizinha. Numa altura em que os Estados Unidos parecem querer isolar-se do mundo e tratar de forma tão draconiana os velhos aliados como os seus adversários e o país está refém de um crescimento anémico de décadas, um projeto que ouse revigorar a economia à escala global só pode parecer-lhe interessante. Tão interessante, quanto arriscado.

A Alemanha e a França.- O eixo franco-germânico procura cerrar fileiras face ao Brexit e face à adesão de muitos países do leste da União Europeia que, face à crise ocorrida nos anos posteriores a 2008, aderiram ao projeto chinês que encararam como uma tábua de salvação para os problemas económicos que os afligiam. Tendo em atenção os portos que se encontram sob influência chinesa, tanto no Mediterrâneo como no Atlântico, é provável que, com maior ou com menor visibilidade e profundidade, outros países se aproximem do projeto da grande nação asiática. De entre estes países, pode destacar-se Portugal e a Grécia. No entanto, a Itália e mesmo a Holanda podem dar-lhe boa cobertura logística. A China tem interesses fortes nos portos de Sines, do Pireu, de Roterdão e de Veneza…

Para alemães e franceses, este projeto pode retirar protagonismo e expressão à Europa, inferiorizando-a e subalternizando-a face a outras potências como a própria China, a Rússia, os Estados Unidos e o ‘libertado’ Reino Unido. Como se isto não fosse suficientemente mau, este enfraquecimento da Europa ocorre ‘às mãos’ de um país que viola tudo aquilo que a Europa gosta de pensar que a identifica: os direitos humanos, os direitos de autor, a liberdade de expressão, em suma: a democracia e o estado de direito…

A Espanha – A Espanha de Pedro Sanchez anseia por se agregar a qualquer preço à Europa. Procura, desta forma, salvaguardar a sua integridade territorial e cimentar as suas instituições democráticas e o progresso da sua economia. Tal como os alemães e os franceses, acredita que é possível negociar com a China e convencê-la a abrir mais as suas fronteiras e a respeitar os direitos de autor mais visivelmente…

O Reino Unido – Os britânicos ‘pós- brexit’ sentem-se mais atraídos para um acordo preferencial junto da Europa e junto dos países nórdicos. Ainda é relativamente cedo para podermos percecionar qual será o seu novo enquadramento geoestratégico.

2 pensamentos sobre “Cintura e Rota (2)

  1. É verdade que por ação do PCC a ‘Ilha Formosa’ não é um país.
    A Onu considera que entidades inexistentes de facto e de direito como o Afeganistão, a Guiné Equatorial. ou a Líbia são países.
    Paradoxalmente, Taiwan, não é considerado um país por esta agremiação cada vez mais ineficaz….

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