No passado dia 5 apareceu no Cinco Dias um artigo tão oportuno quanto interessante sobre os riscos que a indústria automóvel da Europa corre face à ameaça de guerra de taxas que o Presidente Trump veio bramir perante os incrédulos actores económicos mundiais.
Ainda há poucos dias a Chanceler alemã argumentava que a maior parte dos carros alemães vendidos nos ‘States’ eram aí fabricados. Não será esta afirmação uma ‘mentira de truz’, mas é certamente uma meia verdade. Na verdade só a China importa mais carros alemães do que os Estados Unidos.
É que é preciso ter presente que a produção automóvel não assenta só no fabrico de veículos acabados e prontos a fazerem-se à estrada. A indústria de peças é um dos pilares com mais peso na indústria automóvel e, nesta medida, a Alemanha é uma das maiores exportadoras deste sector à escala global e à escala europeia.
Nota importante: a América é a principal importadora de peças automóveis alemãs…
Dizia o referido artigo que «a ameaça de aumentar as tarifas de alumínio e do aço para o setor automóvel levantou ontem todos os alarmes entre os grandes fabricantes na Alemanha. As ações da Daimler e da BMW caíram acentuadamente […]. Os EUA são o maior comprador mundial de carros desportivos e sedans feitos pela Daimler e BMW, como a Mercedes S-Class ou o BMW 7, dois dos modelos mais vendidos nos EUA.»
Ainda no mesmo artigo, a propósito do facto de se produzirem nos Estados Unidos da América Mercedes e BMWs, era referido que a América, «[…] também é uma grande fábrica de veículos (especialmente os maiores, como o Mercedes GLE ou o BMW X5 ) para posterior venda na Ásia. Os EUA são o segundo destino das exportações de veículos da Alemanha, apenas atrás da China, enquanto é o maior comprador de peças.»
Desta forma, a Alemanha para pugnar pela contenção na guerra comercial em perspetiva, punha em evidência o facto de a América produzir carros alemães e ignorava que a América importava em quantidades massivas peças para os carros já em circulação. Compreensível? Claro que é compreensível…
Se olharmos para os 18 componentes do Stoxx Europe 600 Automobiles & Parts como ele era descrito ainda no dia de hoje, podemos aperceber-nos de duas situações. A primeira situação assinalável é que só as empresas alemãs exportam para os ‘States’ em quantidades importantes e a segunda é que é significativa a importância das empresas de peças neste sector.
Name |
Supersector
|
Country
|
---|---|---|
DAIMLER | Automobiles & Parts | DE |
VOLKSWAGEN PREF | Automobiles & Parts | DE |
BMW | Automobiles & Parts | DE |
CONTINENTAL | Automobiles & Parts | DE |
MICHELIN | Automobiles & Parts | FR |
RENAULT | Automobiles & Parts | FR |
FIAT CHRYSLER AUTOMOBILES | Automobiles & Parts | IT |
VALEO | Automobiles & Parts | FR |
FERRARI | Automobiles & Parts | IT |
PEUGEOT | Automobiles & Parts | FR |
Name |
Supersector
|
Country
|
---|---|---|
PORSCHE PREF | Automobiles & Parts | DE |
GKN | Automobiles & Parts | GB |
NOKIAN RENKAAT | Automobiles & Parts | FI |
FAURECIA | Automobiles & Parts | FR |
RHEINMETALL | Automobiles & Parts | DE |
PIRELLI & C. S.P.A. | Automobiles & Parts | IT |
PLASTIC OMNIUM | Automobiles & Parts | FR |
SCHAEFFLER AG | Automobiles & Parts | DE |
(No gráfico abaixo são visíveis as duas quebras que espelham os calafrios sentidos pelo sector automóvel europeu na última semana: a quebra de hoje e a quebra ocorrida no dia cinco.)
Não foi portanto de admirar a reação da diplomacia alemã aos acontecimento políticos escutados a partir do outro lado do Atlântico. E, tristemente, também não foi surpreendente o acordar tardio da França. Mais uma vez a Europa, no seu todo, é um elemento neutro na política internacional.
Todos os estados europeus fazem contas… Depois do despertar da França, eis a Espanha que desperta para a necessidade de contra-atacar as ameaças americanas. Obviamente, fica no ar a ideia de que é a Alemanha quem arrasta toda a Europa atrás de si no combate às ameaças de Trump. Seja verdade, ou não, o que é verdade é que se aceita o dito de que ‘em política, o que parece é’. E parece que a Europa não está a agir a uma só voz.
De facto, as razões para que os interesses alemães não coincidam com os interesses europeus têm uma óbvia razão de ser se olharmos para o gráfico abaixo:
Como se constata os alemães e os japoneses têm melhores razões para se afligirem com as tarifas no sector automóvel do que muitos outros países europeus… Assim se pode explicar que as grandes empresas alemãs obtivessem prontamente o apoio do executivo alemão, isto, enquanto o porta voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas falava numa reação ”decisiva, mas proporcional e estritamente compatível com a Organização Mundial do Comércio. Isto é sobre a Europa fazendo o que tem a fazer para defender seus interesses. Não se trata de nenhuma batalha. A UE é um projeto de paz “. Com efeito, dia 5 até hoje muita coisa parece ter mudado…
Ora, os mercados é que são previdentes e os gráficos é que não se enganam… Duvida do que eu digo, o amigo leitor?
Como se vê são as empresas alemãs que estão a arrastar o índice do sector automóvel europeu para baixo e é a Alemanha que poderá provocar a queda de grande parte da indústria automóvel da Europa ou, e pior ainda, afundar numa crise sem fim à vista a indústria da Europa.
Isto porque se a ameaça americana de fazer subir as tarifas aduaneiras se concretizar finalmente, a UE planeia aplicar uma tarifa de 25% para uma lista de produtos siderúrgicos e agrícolas americanos. Os responsáveis europeus pretendem assim “reequilibrar” a situação criando um nível de dano”equivalente” na economia americana àquele que as taxas americanas tiverem causado na indústria europeia.
Cinicamente, fala-se em ativar “salvaguardas” para preservar a estabilidade no mercado europeu se as importações aumentarem.
Vamos ver como pararão as modas…